Poesia
Ontem, quando vinha no autocarro a caminho de casa depois de um dia extenuante de trabalho, mesmo antes de sair, um senhor, já velhote, parou na porta da saída e começou a dizer um poema. Julgo eu que foi no seguimento da conversa que estava a haver no autocarro, mas achei muito engraçado, aquele velhote saber o poema de memória. Quando terminou já o autocarro estava parado e a abrir as portas. Ele então disse "Boa Noite" e saiu. Foi uma situação super curiosa, pois o excerto de poema que ele disse era positivo. Algo com o sentido: apesar das coisas serem más, de por vezes não serem como queremos, devemos rir. Segundo o senhor o poema era de José Régio. Ora tendo eu assistido a esta situação pensei logo em encontrar o poema e pô-lo aqui.
E de facto encontrei o poema. No entanto, o excerto que ele disse é mesmo uma pequena parte de um poema maior. E apesar de ter aquele mesmo sentido que tinha percebido, encontrei um poema de José Régio que gostei ainda mais!!
Não têm nada a ver, mas este é muito....como dizer...profundo! E é romântico...e sentido...e toca cá no coração quando consegue exprimir alguma coisa humana..
Aqui vai:
Soneto de Amor
Não me peças palavras, nem badalas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, meu amado!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
Não é propriamento um poema agora da época natalícia em que estamos...mas que é bonito lá isso é!